terça-feira, 28 de junho de 2016

RESUMO DE ULTRA-SOM TERAPÊUTICO

Definição

Gerador de corrente elétrica de alta freqüência, conectado a uma cerâmica piezoelétrica, que se deforma na presença de um campo elétrico, formando uma onda sonora.
À medida que a onda penetra longitudinalmente nos tecidos há a ocorrência de áreas de compressão e de rarefação resultando em:

A). Efeitos térmicos

Causas:
- Vibração das moléculas (principalmente proteínas) → aumento da energia cinética → produção de calor → aumento da temperatura tecidual

Conseqüências:
- Aumento na extensibilidade das fibras de colágeno encontradas nos tendões e cápsulas articulares;
- Diminuição da rigidez articular;
- Redução do espasmo muscular;
- Modulação da dor;
- Aumento do fluxo de sangue;
- Resposta inflamatória moderada, que pode ajudar na inflamação crônica.

B). Efeitos não-térmicos

Causas:
- Cavitação estável → formação de bolha gasosas que se expandem e se comprimem devido à mudança de pressão induzida nos líquidos teciduais pela onda ultra-sônica

- Microcorrente acústica → movimento unidirecional de líquidos ao longo dos limites da membranas celulares, resultante da onda de pressão mecânica gerada em um campo ultra-sônico

Conseqüências:
- Estimulação da atividade fibroblástica, aumentando a síntese protéica e de colágeno;
- Aumento da permeabilidade da membrana, facilitando a difusão de íons e nutrientes pela membrana;
- Aumento da regeneração tecidual;
- Promoção de cura óssea e reparo de fraturas não-consolidadas;
- Fonoforese de fármacos para os tecidos.

Freqüência dos equipamentos de ultra-som

A capacidade de penetração da onda ultra-sônica está diretamente relacionada com a freqüência do equipamento. Os equipamentos de ultra-som, em geral, apresentam freqüências de 1 MHz e 3 MHz, sendo a escolha diretamente relacionada com a profundidade de penetração.      
Em altas freqüências (3 MHz), a transmissão de energia é mais convergente, favorecendo uma maior absorção de energia pelos tecidos superficiais. Como resultado há uma redução na capacidade de penetração da onda sonora. em freqüências menores (1 MHz), a transmissão de energia é mais divergente, com isso há uma menor absorção de energia pelos tecidos superficiais, favorecendo uma maior penetração da onda sonora.

Modos de ultra-som

Podemos utilizar o US no modo contínuo e pulsado. A escolha do modo depende da quantidade de energia (intensidade) que pretendemos que chegue ao tecido a ser tratado.

No modo contínuo, como a energia ultra-sônica é gerada continuamente, a intensidade instantânea é igual à intensidade média. Em outras palavras, se a intensidade instantânea for, por exemplo, 1 W∕cm2, a intensidade média também será de  1 W∕cm2.

no modo pulsado, a energia ultra-sônica é gerada somente durante o tempo ligado. A finalidade de utilizar esse modo é reduzir a quantidade de energia ao tecido a ser tratado, com isto haverá redução dos efeitos térmicos, ocorrendo somente os efeitos não térmicos. Sendo assim, ao utilizarmos a intensidade instantânea de 1 W∕cm2 com pulsos de 50% (1:1), a intensidade média gerada será de 0,5 W∕cm2.
Seguindo o mesmo raciocínio, ao utilizarmos a intensidade instantânea de 1 W∕cm2 com pulsos de 20% (1:2), a intensidade média gerada será de 0,2 W∕cm2. para pulso de 10% (1:9), a intensidade média gerada será de 0,1 W∕cm2. Desta forma, quanto menor o percentual de pulsação, menos energia será transmitida ao tecido.

Importância clínica

Em processos inflamatórios agudos, como a área a ser tratada deve receber intensidade menor do que 0,5 W∕cm2 (preferencialmente até no máximo 0,2 W∕cm2), a fim de garantir que o tecido a ser tratado terá somente efeitos não-térmicos, a forma pulsada pode ser a melhor escolha.

Já em condições crônicas, onde o efeito térmico é importante, o ultra-som contínuo seria a melhor opção, já que neste caso, a intensidade instantânea representa à intensidade média. Vale mencionar que para o tecido a ser tratado apresentar aumento de temperatura, é necessário que chegue uma intensidade entre 0,5 e 1 W∕cm2.
Para isto, é fundamental conhecermos a profundidade do foco a ser tratado. Em termos práticos, à medida que a onda penetra, há uma atenuação, em função da absorção da onda, de 50% a cada 1 cm de profundidade. Sendo assim, se desejamos tratar um tecido que se encontra a 2 cm de profundidade, com uma intensidade suficiente para promover efeitos térmicos, devemos calcular previamente qual a melhor intensidade instantânea.

Por exemplo: se o foco a ser tratado encontra-se a 2 cm de profundidade e desejamos que efeitos térmicos ocorram nesse tecido, temos que utilizar uma intensidade instantâneo em torno de 2 W∕cm2.

Como calcular o tempo de aplicação?

De acordo com a literatura o cálculo do tempo de aplicação dependerá do tamanho da área a ser tratada e da área de radiação efetiva do cabeçote (2 a 3 minutos para cada 1 ERA e ½).

Sendo assim, se área a ser tratada apresentar um diâmetro de 4 cm, o raio será 2 cm e a área, que representa 3,14 x (raio)2, será equivalente a 12,5 cm2. De acordo com esta área a ser tratada e a ERA do cabeçote (considerar, por exemplo, ERA = 4 cm2), o tempo médio para tratamento será de aproximadamente 4 minutos e o tempo máximo de tratamento será 6 minutos.

Cálculos:

Tempo médio
2 minutos → 6 cm2
x minutos → 12,5 cm2
x = aproximadamente 4 minutos

Tempo máximo
3 minutos → 6 cm2
x minutos → 12,5 cm2
x = aproximadamente 6 minutos

Observação

O cabeçote do ultra-som possui uma área de radiação efetiva (*ERA) menor do que a sua área total. O conhecimento do tamanho da ERA do cabeçote se faz necessário para determinação do tamanho da área de tratamento. A literatura cita que a área de tratamento deve ser 2 a 3 vezes o tamanho da ERA. Sendo assim, este recurso é mais eficiente para tratar pequenas áreas.

* ERA = área da superfície do cabeçote que realmente produz onda sonora.

Para conhecer a ERA do cabeçote, devemos consultar o manual do equipamento.

Importante

Deve-se utilizar agente de acoplamento entre a pele do paciente e o cabeçote a fim de reduzir a reflexão na interface ar-tecido e facilitar a passagem da energia ultra-sônica. O agente acoplador deve:
- Ter baixo coeficiente de absorção;
- Permanecer livre de bolhas de ar durante o tratamento;
- Ser aplicado na pele com o cabeçote em contato com o meio de acoplamento antes de ligar o aparelho;
- Ser preferencialmente gel hidrossolúvel.  

Além de utilizar agente de acoplamento, o cabeçote deve ser movimentado utilizando-se movimentos circulares lentos sobrepostos e padrão de deslizamento longitudinal, a fim de proporcionar uma distribuição uniforme da energia dentro da área a ser tratada, evitando a formação de cavitação instável e pontos quentes.

Freqüência de tratamento

Processos agudos:
- Iniciar a aplicação de US dentro de 48 hs para maximizar o processo de cura.
- O uso deve ser de 1 a 2 vezes por dia, durante 6 a 8 dias até redução dos sintomas (dor e edema).

Processos crônicos:
- Aplicar o US em dias alternados até melhora dos sintomas (até no máximo 14 sesões).

Técnicas de exposição

Técnica de contato direto
  • Superfície a ser irradiada é razoavelmente plana sem muitas irregularidades
  • Uso de gel de acoplamento entre o cabeçote e a pele do paciente ou formulações farmacológicas com fins terapêuticos (fonoforese- contínuo / 1 MHz)
  • US deve atingir a pele em ângulo de 90◦
  • Movimentar o cabeçote com movimentos circulares lentos sobrepostos e longitudinais
  • Manter o cabeçote o tempo todo em contato com a pele

Técnica de imersão em água
  • Indicação
    • Área a ser tratada é menor que o diâmetro do transdutor disponível
    • Área irregular com proeminências ósseas
  • Uso de bacia de plástico, cerâmica ou borracha
  • Uso de água de torneira como meio de acoplamento
  • Movimentação do cabeçote em paralelo à superfície tratada
  • Transdutor deve ser mantido perpendicular à área tratada
  • Distância entre o cabeçote e a pele de 0,5 a 1 cm
  • Importante: consultar sobre a blindagem do transdutor para aplicação subaquática

Testes utilizados para avaliar o equipamento de ultra-som

1 – Teste para avaliar possíveis alterações no campo acústico
(periodicidade: 1 x por semana):
n  Ultra-som modo contínuo / 1 MHz
n  Colocar 1 mL de água sobre a superfície metálica do cabeçote
n  Observar o feixe ultra-sônico em baixa dose (intensidade de 0,1 W/cm2) – análise qualitativa do campo acústico do feixe US (irregularidades e tamanho da ERA)

2- Teste de cavitação:
n  Ultra-som modo contínuo / 1 MHz
n  Colocar 1 mL de água sobre a superfície metálica do cabeçote
n  Observar o feixe ultra-sônico em baixa dose (intensidade de 0,1 W/cm2)
n  Observar a lenta e constante elevação da intensidade e a qualidade da cavitação
n  Cavitação visível na intensidade de 0,1 W/cm2 (modo contínuo)
n  Nebulização da água em intensidades de 1,3 a 1,8 W/cm2

3- Teste para conferir a capacidade de transmissão em relação a um meio
  • Circundar o cabeçote com uma fita deixando 2 cm de fita
  • Encher o tubo de fita com 1 cm de espessura de gel de US
  • Encher o restante com água
  • Ajustar a intensidade e observar a bolha (contínuo / 1 MHz / 1,5 W/cm2)
  • Repetir o procedimento substituindo o gel pelo meio testado (preferencialmente gel)
  • Se a água tem pequena ou nenhuma bolha, seu meio desejado não é bom acoplamento

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

Prentice, W.E. Modalidades terapêuticas em medicina esportiva. São Paulo: Manole, 4º edição, 2002.

Guirro, E; Guirro, R. Fisioterapia dermato-funcional-fundamentos, recursos e patologias. São Paulo: Manole, 2004.


Kitchen, S.; Bazin, S. Eletroterapia prática baseada em evidência. São Paulo: Manole, 2003. 

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